quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Quando o outono chegar

No outono dos dias incertos sonho com a primavera e com o verde dos campos e  com o murmurar das fontes. Lembro que o vento pinta as folhas das árvores com as cores dos teus olhos, o castanho doce. E atapeta o chão dos jardins e dos passeios com a cor de mel das nozes e das amêndoas misturada com a cor do açafrão profundo, e da ameixa e do vinho tinto,  como se de um coração sofrido saltasse. São um tapete almofadado que range debaixo dos nossos passos. Gosto de caminhar pela rua, sozinha, com a brisa da manhã no rosto e sentir o calor do sol timido e suave, que me lembra o toque da tua mão no meu rosto afogueado de medo e desejo. Observo que os pássaros já não cantam nos beirais e esvoaçam por entre as nuvens coloridas, que acordam estremunhadas de mais uma noite de alvorada, rasgada de sonhos, de silêncios e de nada. Se ao menos na tua tela tivesses estes tons quentes para pintarmos o nosso mundo, poderíamos ser felizes ao som de uma harpa enamorada e deixar o vento pintar de outono o meu jardim na poesia de um momento. Não deixes o outono entrar, fica apenas tu e repousa no meu olhar.







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