domingo, 30 de junho de 2013

Esboço

Desenhei-te sem te conhecer,
E sem te ver imaginei os teus traços,
Esculpidos numa pedra.
granítica rude e morna de sol
A tua voz levou-me até ao mais profundo de ti
E foi assim que te conheci.
Depois, desenhei letras e construí palavras
Sonhei o teu olhar com espigas maduras
E adormeci a murmurar o teu nome nas searas
Agora que te conheço,
Apago os defeitos
E volto a delinear o teu corpo
Nem que seja apenas com os meus dedos.
E nas tuas mãos me embalar 
Como pássaro no ninho.
Procuro-te, por entre as sombras
E encontro um pedaço de ti e de mim
Foto:Mafaldinha
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Liberdade

Perco-me de ti
O meu olhar debruça-se na outra margem, na distância
Aqui, os barcos baloiçam na brisa suave
Eu, eu nada, pouso o meu pensamento em ti
E observo a água que murmureja no meio do leito
E parando o correr que a leva aos braços do mar
Olha-me como natureza infinita
A natureza na suave essência da vida livre
E eu sou livre? de correr para os braços que me seguram?
E tu? ainda aguardas por mim? ou já seguiste
As águas calmas do rio em direcção a outro porto?
Sentada na sombra espero
O momento em que  esse mar imenso em que te transformas
Me sufoque, abrace e me seduza
A nossa liberdade é segura e nunca vacila, aguarda, sem grilhões e sem amarras

(procurei por ti aqui e tu não estavas
desci lá abaixo e junto ao rio percebi que estava mais perto de ti)

Foto:Mafaldinha


Olhares

Pela janela do comboio olho, e és tu quem me acena de lá
Nos campos de arroz alagados de seiva cultivada
em que me miro e procuro um pouco de ti
E do nada recebo tudo
A dor da ausência inveja o que não tem
Deixa-me esperar, mesmo que não venhas
E exaurida de tanta espera adoecer de amor.
Assim há sempre desculpa para sentir o que se sente
e até no doce balançar da carruagem imagino a viagem no tempo
reviver não é passado, é transportar para o presente o que do presente almejamos


Maça de junho
Foto:Mafaldinha




quinta-feira, 27 de junho de 2013

Amadurecendo

No cesto cabiam apenas pequenas amostras de mim
A fruta nem sempre é doce ao trincar
Mas quando madura, a cada mordida deixa um sabor autêntico
E desfaz-se na boca, suculenta e suave,
Para perdurar nos lábios dos amantes
Se recordarem o tempo das ameixas vermelhas!
Agora as cerejeiras estão já depenicadas pelos pássaros
Que esvoaçam na brisa da manhã e ao cair da tarde
E no chão jazem as cerejas, desmaiadas de calor
Não resistem ao abandono que o bico fino e prazenteiro lhes devota.
Para ser fruto, primeiro há que ser árvore de fortes braços e resistente folhagem
Como dois corpos, florescer num arraial de relâmpagos que resistem na intempérie dos sentidos
O prazer está em escalar até ao topo e segurar a maçã, sem vacilar
E pelo riso da infância em rubra e formosa textura da tua boca findar
No cesto restam apenas amostras do que ficou do festim, caroços desfeitos em pedaços
Foto:Mafaldinha




terça-feira, 25 de junho de 2013

Embriaguei-me de ti

Foi de ti que eu me embriaguei
Deixaste-me bêbada de amor e depois não sei se vacilei
Não me lembro ...
A memória, ficou também ela enevoada de tanto néctar
Desse que destilas sem saber, e no qual colocas o sabor do mel e do grão de trigo.
Na minha pele se foi entranhando, como na vindima as grainhas no mosto,
Agora, é tarde demais,
Deixaste-me de ressaca do vício ou da virtude e ambos precisam de alimento,
Que nem sempre o tempo traz, nem o vento leva nas asas do desejo
E lembro ainda ...
E nada atenua este frémito, este torpor
Que na lucidez perturba e ensandece
Volto para me embriagar, desta vez de versos e de poesia
Com cheiro a madressilva e a cidreira, a mar e a saudade.
Embriaguei-me de ti.

Foto:internet



segunda-feira, 24 de junho de 2013

Tonalidades

Por vezes sou ninguém
outras o mundo inteiro
o teu mundo e o mundo que eu desejo para mim

Por vezes sou uma multidão
e uma parte de mim é solidão
Nem a mim me encontro para me fazer companhia

Por vezes penso
por vezes sou delírio
quando me oiço a chamar o teu nome que ninguém ouve

Foto:Mafaldinha

domingo, 23 de junho de 2013

Bifanas para o nosso S.João

Há quem diga que cozinhar é uma arte. Essa arte eu não sinto possuir. Mas, para mim, é essencialmente um grande prazer. Uma forma de descontrair, de gastar as energias que se acumulam e por vezes parecem querer implodir cá dentro, é por isso uma forma de relaxar, de me divertir e de degustar coisas boas, bem temperadas, bem cozinhadas, com tempo e com mimo. 

Os dias voam como num piscar de olhos e nunca dá tempo para nada, mas se quisermos e quando queremos dá quase para tudo. Pois desconhecemos quando vamos parar de receber oportunidades de compartilhar mais, amar mais e ser mais. E eu gosto do tempo em que faço mais, dou mais e partilho mais, pois é nestes momentos que também recebo mais, fico de coração exaurido de cansaço e de afeto.

Vem mais uma noite de S. João e na exacta medida de anos anteriores vamos juntar-nos os mesmos, desta vez na casa do LL Temos que levar uma multa, mas eles deixaram ao nosso critério o que levar. Lá tem as sardinhas que vão da Afurada e o caldo verde. Lembrei-me de fazer um petisco que sei ser do agrado dos convivas e que não faço muitas vezes. Bifanas.  Enquanto o carvão desfaz e a grelha assa sabe bem um pedacinho de carne bem molhadinha  a escorrer pelo pão. Acho que farão as delícias da companhia
  • 1kg de bifanas cortadas finas e pequenas ( pedi no talho e corataram-nas bem fininhas)
  • 2 copos de vinho branco
  • 1 cerveja 
  • 3 colheres de sopa de molho inglês ( se gostar pode acrescentar mais)
  • 5 dentes de alho
  • 1 cebola pequena cortada fininha
  • piri piri (usei uma vagem dos que cultivo aqui em casa nos vasos)
  • Colorau q.b.
  • Pimenta branca q.b
  • Azeite q.b
  • 2 folha de louro
  • 1 raminho de salsa e umas folhas de 
  • Sal q.b
  • duas colheres de sopa de polpa de tomate (eu usei tomate que tinha congelado)
  • 2 copos de Whisky
  • 1 cálice de Vinho do Porto
  • 1 Limão 
Preparação:

1. Começo por colocar a carne numa taça e regá-la bem com o limão, temperar com um pouco de sal e alho picado. Deixo nesta marinada umas horas (2/3).
2. Num tacho coloco o azeite até cobrir o fundo, deito o alho, louro, cebola, colorau, pimenta e vai-se mexendo para não queimar. Juunta-se o tomate e deixa-se refogar bem em lume brando.
Junta-se o vinho, a cerveja, o molho inglês, whisky, o vinho do Porto e deixa-se levantar fervura.
3. Quando já ferve bem, deita-se a carne lá dentro. 
Mexe-se e deixa-se ferver cerca de meia hora, sempre em lume brando até estarem bem tenrrinhas.
4. Prova-se de sal e rectifica-se, picante a gosto de cada um, se gostar do paladar do molho inglês mais forte pode acrescentar.

Quando a carne estiver cozida está pronta para servir.

Bom apetite! E bom S. João

Hei-de deixar ao relento 
Uma folha de figueira
Se o s. João a orvalhar
Hei-de encontrar quem me queira


Foto:Mafaldinha



sábado, 22 de junho de 2013

Quando sou mar acordo a beijar a areia
que escorre de mim e dormiu colada ao meu corpo

Quando sou vento, sacudo a tempestade de mim
e deixo agarrada na pele a humidade que amanheceu de ti

Quando sou coragem, emudeço e escondo-me do mundo
Não para fugir dele, apenas para deixar o teu mundo maior

Foto:Mafaldinha

terça-feira, 18 de junho de 2013

Microconto

Crescera no meio do rebanho com a companhia do cão, o velho Restelo que conhecia desde que nascera, e a protecção divina dos céus. Calcorreava o paraíso nos montes que eram de esteva e feno no verão, onde nasciam granitos e pedras de gelo no inverno. 
Nunca ninguém lhe ensinara a magia de juntar letras para inventar palavras. Sabia defender-se do perigo de alcateias inteiras mas desconhecia o perigo do mundo. Desceu à cidade e perdeu-se nos seus braços. Forasteiro, moreno, de verbo fácil e comerciante reconhecido. Começou por lhe oferecer um lenço  bordado, lindo, cheio de cor e de flores que guardou durante toda a vida. Agora chora a sua perda.



Fotos: Mafaldinha



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quando no silêncio até as palavras são gritos
Deixa que se estilhasse esse som ensurdecedor
Pois o silêncio oportuno é mais eloquente que o discurso.


E música que não precisa de discurso 
para ser bela 
e fazer de um momento solitário 
um mimo repleto de sentimento


domingo, 16 de junho de 2013

Voando como um livro

Lá porque sou um livro aberto não serão precisas muitas páginas para ler. Serão tantas, quantas aquelas que vieres comigo escrever. Mesmo no silêncio nada fica por dizer, e nem a brisa do vento tomba as folhas por bordar. Lê-me, mas devagar, e deixa ser eu a anotar, as horas e o vagar. Há páginas que ficam em branco. Não é por falta de alma apenas porque não queremos manchar a pureza desse momento. Quando o deixo aberto, na penumbra de um sentir, fico à espera que me digas o que escrever a seguir. E se nem sempre surgem letras a expressar o sentimento dá-me um retrato de ti que guarde eternamente. Quero guardar uma obra, que faça sorrir quem a ler, tudo tem um começar tudo tem entardecer. Diz-me agora tu, do teu jeito, qual a página que guardamos, para daqui a muitos anos. Quero ler-te com os olhos macios como veludo e fechar-te no coração, com uma janela aberta de par em par, não quero perder-te ainda como vaga recordação. As folhas não as colorimos, nem a tua boca fresca e macia se abeirou para as pintar. Não quero deixá-las manchadas quando uma lágrima tombar. Podes chegar devagar e deixar-te amar, como um livro inteiro, posso sempre tomá-lo como um refugio e ao prazer mantê-lo em segredo. Jogando o jogo da liberdade e descansando depois como se descansa quando o livro é bom, voando sobre o infinito de ti.

Foto:internet

sábado, 15 de junho de 2013

Encantamento

Lisboa não é só Alfama, o Restelo ou a Mouraria
Toda ela cabe num estendal, de roupa branca na varanda
escondendo amores puídos, ou revelando outros martírios
Lisboa é o eléctrico que sobe a calçada
de encontro à madrugada dos amantes
Para na espuma do rio sonharem novos instantes
de encantamento e deslumbramento
Seja no cais das colunas seja no cais de Sodré
E nos braços que não de prata tombarem
formando uma liga  por fusão ou mesmo oxidação
Lisboa vai a Oriente, gaiata de chinela no pé
para nos jardins envoltos em mistério viver a vida que vida é
Brilha dourada pelo sol, vagarosa e lânguida
E se no céu escorrerem nuvens
são testemunhas silenciosas dos gritos das gaivotas





Fotos: internet

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Doença

Deixa-me sonhar nem que seja agora
Nem que amanhã acorde desiludida do mundo
deixa-me delirar
Aproveitando os graus febris do meu corpo
que teimam em permanecer
Não quero antibiótico se puder prolongar o prazer
E sonhar com os teus cuidados prazerosos
Sim esses que deixamos esquecidos
Num percurso surpreendente que se perdeu
porque a vida seguia e deixei de a encontrar
Agora o corpo dói, dói muito não sei se de amor se de doença
O médico diz que é doença, mas que sabe ele de amor?
E os remédios não curam o coração
Nem dão à vida a sabedoria doce e terna que guardo em mim
Mantenho os olhos fechados
E não vejo esta porção de alma renascer
morrerá à míngua de afeto
E a febre desaparecerá e o cansaço libertar-se-à
para dar lugar a mais trabalho, a mais sonhos e a mais tristeza
reflexo de um espelho partido
onde não te encontro
nem as contas escuras de teus olhos
se acendem na escuridão da noite
Foto:internet




quinta-feira, 13 de junho de 2013

Escuta-me

Escuta
pois não vou sequer pronunciar palavras
que perdem o significado depois de serem ditas
na vida há percursos surpreendentes
de alcançar
mas apenas aqueles que se deixam encontrar
como tu
Que me lês nas entrelinhas
e me decifras em cada gesto meu
não venhas
sempre que não puderes
adivinha-me apenas


Foto:internet

terça-feira, 11 de junho de 2013

Biografia

A minha biografia lê-se em mim
no dia que nasce
no sol que aquece
no vento que sopra no rosto
na brisa que empurra o mar,
é a minha nudez envolta no pensamento
é o meu olhar pousado num breve momento
é a vontade sufocada pelo sonho,
é não ter cartão de identidade
e deixar o eu perdido nos afetos
não trazer comigo o que buscava
esquecido que fica do mundo...
Tudo o que chega a mim
me acrescenta e emerge de dentro
qual fermento levedado na masseira!
Tenho uma aliança firmada
com as coisas que me embelezam
música, livros e amigos verdadeiros me bastam
e depois, depois é o amor de mãe e de mulher
que colho em cada pétala que pousa nas minhas mãos
e num sopro suave e quieto, abraço e protejo.

Foto:Mafaldinha





sábado, 8 de junho de 2013

Ausente de mim

Sair de mim
É esvaziar o sótão
das ideias malucas
que são o que não são
Sim vou sair
Sair implica encontrar
um porto de abrigo
um regaço aberto
um pedaço de céu
tecido de estrelas
há beira mar
por mim
um jardim plantado para mim
mesmo por ti
é encontrar outro eu
junto de ti
migrado no mais profundo de mim
ausente que esteja do mundo
porque se encontrou
e ficar junto a ti
para nascer de novo
como o dia

Foto:internet





sexta-feira, 7 de junho de 2013

Momentos

Há beijos que me recebem
e não saem de teus lábios
há palavras que nos ferem
e nunca foram ditas
há abraços que nos esperam
e não chegam até nós
há momentos ...
e apenas flores me bastariam
já foram colhidas, não por mim
há vidas que não merecem
o caminho percorrido
nem o corpo que as suportam
Nem eu

Foto:Mafaldinha


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Nada

Há tanto mar sem sereias
e tanto céu sem estrelas
tanta primavera sem flores
e eu sem ti
para acordar um dia
para além de mim
alguém para fugir para fora de mim

Foto:Mafaldinha


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Desapego

Vive de sons e de notas de musica
escritas e tocadas ou apenas pensadas
como se uma partitura fosse a respiração

Dá encanto à tristeza e impulsiona alegria
amadurece os sentidos 
e serve de alimento a alma

Uma raiz para lá do chão
um poema que canta
uma melodia que sai de dentro de mim

Uma casa de paredes meias
com o doce jubilo dos amantes
numa cama de partituras

Porque o amor são todas as letras
quando não há palavras
e todas as músicas do silêncio

Ainda que falasses a língua dos homens
ou estivesses escrito num livro raro
sempre te encontraria porque me doei por inteiro





domingo, 2 de junho de 2013

Bolo de banana

Há receitas que chegam por mãos amigas e esta foi o caso. Uma amiga queixando-se que a receita não ficava bem e que haveria alguma coisa que não ligava, etc e tal. Pedi-lha e comprometi-me a explicar o que havia na receita que não desse os resultados pretendidos. Não vi nada e hoje experimentei-a. Acho que ficou um bolo muito fofo, de paladar muito agradável e uma boa sugestão para fazermos um bolo diferente do habitual.

Ingredientes:
120 gr de manteiga amolecida
120 gr de açucar amarelo
3 ovos
220 gr de farinha
uma colher chá de fermento
uma colher de café de bicarbonato de sódio
4 bananas bem maduras 
sumo de um limão
uma colher de chá de canela em pó

Amassa-se com um garfo as bananas, regam-se com o sumo de limão, e reserva-se.
Numa taça mistura-se a manteiga com o açucar até obter um creme e juntam-se os ovos inteiros, um a um, batendo sempre. Peneira-se a farinha juntamente com o fermento, o bicarbonato e por fim junta-se o puré da banana e a canela.
Vai ao forno pré-aquecido a 180º em forma de bolo inglês barrada com manteiga e polvilhada. 
Na cozedura diminui o calor para cerca de 170º e cozeu durante 50 minutos. 


Fotos:Mafaldinha