domingo, 27 de outubro de 2013

Lição de Coisas

A exatidão serena de uma flor
Aconselha-me em vão
A encher de paz e sem amor
O revolto e impreciso coração.

Ó luz tão verdadeira,
Que dás o verde tenro e o branco puro,
Eu dava a vida inteira
Para ser monte ou muro!

Mas ao homem não valem
Desejos minerais:
Aves, flores, que se calem!
Hei-de ser como os mais.

Nem florido no orvalho como a rosa,
Nem azul como o monte arredondado.
Ó imaginação, só tu és dolorosa!
O maior mal ainda é o imaginado.

Vitorino Nemésio, Nem Toda a Noite a Vida, Lisboa, Ática, 1953


Maça de junho

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