sexta-feira, 7 de março de 2014

Amar com os pés


Há provas de amor que não estão nas palavras, nem há juras eternas, nem encontros secretos, agendados para determinado dia e hora. Ritual de muitos amantes, que precisam se ver, tocar, inquirir e abraçar a cada encontro que marcam e que executam nas mesmas horas, no mesmo local, da mesma forma. E depois dizem-se apaixonados. Dizem amar o outro, aquele que encontram qual data marcada pelo calendário, qual relógio de ponto onde apenas falta o cuco cantor. 
Um dia talvez venha aqui escrever que é assim que vivo o meu imenso amor, talvez venha aqui escrever que é assim que sou feliz. Mas espero nunca o fazer.
A forma que eu penso o amor, é haver tempo, sem tempos marcados, é haver comunicação sem precisar falar de tudo o que pensa ou de tudo o que anseia, é viver bem os momentos que estão disponíveis, é respeitar o tempo, a forma e o modo do outro. É exigir, quando se está disposto a também ser exigido. É saber dar sem mandar a conta, é encontrar um sorriso sem ter encomendado, é surpresa, e é desilusão. Enfim é viver a vida com tudo o que se encontra dentro dela. É fazer tudo, tudo aquilo que os amantes desejam fazer. É por vezes nem fazer nada, mas separarem-se como se tivessem feito tudo, sentir o prazer orgasmico do corpo, até quando não há contacto físico. 
Mas há um momento único que recordo e que traduzo pelo sublime da nossa relação. Quando os teus pés tocaram os meus. Quando os nossos pés se encontraram a primeira vez, sim era a primeira vez que eles se tocavam, e os teus entrelaçaram-se nos meus e esfregaram as minhas plantas, como se buscassem um equilibrio, como se retirassem o sustento deles, como a planta da terra. A intimidade vive-se de diversas formas, mas foi a forma mais intima de alguém me dizer o quanto me ama.Foi o encontro mais doce que me deste, quando me deste os teus dedos, quando o teu dedo grande acariciou a planta do meu pé. Quando me quiseres amar de novo, toca-me os pés. A liberdade dos nossos pés se tocarem é a intimidade do amor puro como o conheço, aquele que me deste a conhecer. E depois, depois podemos apenas adormecer nos braços do outro, aquele adormecer suave, repousante, sem condições, nem considerações. Porque amar não é apenas fazer tudo e desaparecer no escuro da noite. Amar não é correr para os braços do outro, entre suspiros e lençóis e desaparecer depois por semanas, que nem príncipe em nevoeiro serrado.Amar é estar junto a todas as horas, até quando as horas não são nossas, até quando juntos apenas os pensamentos que se encontram até para discordar, amar é juntar os pés, respirar e beijar os pés do outro depois das horas do dia, mas quando as horas se esquecem de avançar, deslumbradas perante o amor que vivem.

@Maçã de junho

foto:internet







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