sábado, 18 de abril de 2015

O PORTO
Eu gosto do Porto. Não do Porto erudito do Sampaio Bruno, ou do burguês e literário do Ramalho. Gosto de um Porto cá muito meu, de que vou dizer já, e amo-o de um amor platónico, avivado de ano a ano à passagem para a minha terra natal, quando o menino Jesus acena lá das urgueiras.
Entro então nele a tiritar de frio, atravesso-o molhado de nevoeiro, tomo um quarto, e deito-me no aconchego desta velha e casta paixão que nos une. No dia seguinte, pela manhã, levanto-me,... compro um jornal, embarco, e a minha visita anual e discreta acabou.
De vez em quando perco a cabeça, estrago os horários, e vou ao Museu Soares dos Reis ver o Pousão, passo pela igreja de S. Francisco, ou meto-me num elétrico e dou a volta ao mundo, a descer à Foz pela Marginal e a subir pela Boa-Vista.
 
Miguel Torga - Portugal, 2ª Edição refundida, Coimbra, 1957.
 
@Maça de junho
 

Sem comentários:

Enviar um comentário