sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Os que perderam o medo de ter medo

Não sei se são refugiados ou emigrantes ou desempregados, mas sei que são pessoas, homens e mulheres e crianças. Muitas crianças. As noticias referem serem maioritariamente refugiados da Síria e da Líbia, árabes na sua maioria. Chegados à Europa, livre e democrática vêm-se retidos dentro de comboios sobrelotados, durante horas, se não morrerem entretanto asfixiados em camiões, enquanto os diversos estados europeus, civilizados e defensores dos direitos humanos trocam entre si acusações de "politica escandalosa" e outros adjetivos proferidos ora em francês ou alemão, consoante der mais impacto juntos dos órgãos de comunicação.
E enquanto isso vai ocorrendo e nos vamos distraindo com as observações piedosas de alguns políticos, o mundo, e o mundo somos nós, começa em cada um de nós, continuamos indiferentes ao sofrimento humano que ocorre para lá da Grécia. A Grécia já é longe o suficiente para nos preocuparmos muito, exceto saber se eles continuam pior que nós no défice. O resto é de somenos. Também gosto especialmente de ouvir aquelas frases de que sempre haverá refugiados de guerra e pobres no mundo. Pois sim, que haja, desde que não sejamos nós. Não sou tão ingénua que não saiba que nestas demandas vem de tudo um pouco: gente culta, escolarizados, pais de família, gente abnegada, e gente marginal e malfeitora. Durante a segunda guerra mundial Aristides Sousa Mendes provavelmente não salvou apenas judeus honestos e sérios, salvou quem pode. E lembram-se ter visto no filme " A lista de Schindler" que este não "empregava" na sua fábrica apenas homens bons, mas empregava essencialmente aqueles que careciam de proteção. E se não foram salvos todos os judeus, também agora não serão salvos todos os refugiados, mas dar a mão ao próximo é isso mesmo. Dar a mão sem perguntar quem é. Lembro-me de uma conversa recente em que alguém dava boleia a um sem abrigo, sujo, a quem não perguntou sequer o nome. Pois é esta opção pelos últimos, a defesa dos mais pobres, o cuidar dos mais frágeis, esta consciência social, que apesar de toda a contestação que é objeto vai de encontro à consciência coletiva que Durkheim defendeu : "o indivíduo passa a ver a sociedade não como um conjunto de obrigações estranhas a ele, mas como um conjunto de direitos e deveres que ele precisa e, acima de tudo, quer respeitar." É apenas isto que a maioria dos refugiados procuram. Claro que para sobreviverem precisam trabalhar, instalar-se e reorganizar a família mas até agora ainda não vi ninguém na velha europa mostrar disponibilidade. Ouvi, sim, um autarca de Vila Velha de Ródão dizer que o município tem condições para receber entre 3 a 5 famílias. é pouco dirão os arautos da misericórdia envergonhada. Mas se multiplicássemos 5 pelos municípios todos desta europa decadente e narcisista talvez o problema parasse de crescer. Mas a europa já se esqueceu que Jean Monnet tinha um sonho: "não quero coligar estados, quero unir os homens".
 
Depois deste texto ser escrito e publicado, tivemos conhecimento da abertura por parte do governo português em receber um determinado número de refugiados, o que é de louvar.
 
A nível europeu paradoxalmente o único político que parece revelar algum bom senso é a srª Merkel. Pode ser que não seja tudo totalmente mau.
 
Texto encontrado no facebook: https://www.facebook.com/aldamgoncalves
 
@Maça de junho
 

Sem comentários:

Enviar um comentário